As mãos trémulas roubavam horas ao infinito e dedicavam-se ao mais profundo esquecimento numa muralha de pensamentos a sofrer de erosão, de certezas que se desvanecem, desistem, caem, amachucam-se e põem-se num lixo, revestindo-se de palavras complicadas e vazias que muitos pensaram mas que poucos perceberam!
Acendeu o cigarro. A conversa estava a produzir um efeito aglutinador, de absoluto remate final, era como se tudo dependesse daquele pedaço de gente e tudo renascesse sob uma outra forma ainda por descobrir. Os pincéis estavam a perder a cor e a tela outrora confusa ora tomava rumo e sentido, ora ficava cinzenta e apagada; os vermelhos apaixonantes gritavam por baixo de novas camadas de cor mais fortes, sem dúvida.
Algures entre aquelas ruelas perdidas no tempo e achadas num espaço monocórdico, numa revolta de sentimentos soltou-se um grito mudo e um suspiro profundo, a noite gelada e distante escurecia, a alma alimentava-se de substâncias estranhas e a noção de norte estava centrada num olhar profundo.

Alguém tinha acendido o esqueiro e enquanto a lua alta se reflectia nos rostos animados de uma rua sem fim, aquela chama aquecia a possível madrugada com um olhar de reprovação intercalado com um sentimento de medo impresso em cada gesto.
A música baixa, as vozes acalmam-se estava na altura de regressar à praia para que a atmosfera de alívio se instalasse novamente e os corpos pudesse finalmente adormecer com novas certezas...

Sabes, vou tão bem na tua mão!