terça-feira






As mãos trémulas roubavam horas ao infinito e dedicavam-se ao mais profundo esquecimento numa muralha de pensamentos a sofrer de erosão, de certezas que se desvanecem, desistem, caem, amachucam-se e põem-se num lixo, revestindo-se de palavras complicadas e vazias que muitos pensaram mas que poucos perceberam!


Acendeu o cigarro. A conversa estava a produzir um efeito aglutinador, de absoluto remate final, era como se tudo dependesse daquele pedaço de gente e tudo renascesse sob uma outra forma ainda por descobrir. Os pincéis estavam a perder a cor e a tela outrora confusa ora tomava rumo e sentido, ora ficava cinzenta e apagada; os vermelhos apaixonantes gritavam por baixo de novas camadas de cor mais fortes, sem dúvida. 


Algures entre aquelas ruelas perdidas no tempo e achadas num espaço monocórdico, numa revolta de sentimentos soltou-se um grito mudo e um suspiro profundo, a noite gelada e distante escurecia, a alma alimentava-se de substâncias estranhas e a noção de norte estava centrada num olhar profundo.


A vida até podia ser governada pelos sentimentos mas naquela madrugada só havia espaço para racionalidades e atitudes conscientes, o coração acelarado, a voz suave arranhava e uma incapacidade para estar parada faziam-na colocar um sorriso, finalmente aquele chão que não podia ser mais irregular e escorregadio parecia estar a ficar mais firme... a secura da garganta fora substituída por um doce sabor a " vou conseguir nem que seja por que tu não acreditas", e meia garrafa depois  sem lágrimas ou solavanços ela era dona do seu silêncio e não prisioneira das suas palavras.


Alguém tinha acendido o esqueiro e enquanto a lua alta se reflectia nos rostos animados de uma rua sem fim, aquela chama aquecia a possível madrugada com um olhar de reprovação intercalado com um sentimento de medo impresso em cada gesto.


A música baixa, as vozes acalmam-se estava na altura de regressar à praia para que a atmosfera de alívio se instalasse novamente e os corpos pudesse finalmente adormecer com novas certezas...







Sabes, vou tão bem na tua mão! 

domingo

Não teve importância, quase nenhuma, mas ele recusava-se a engolir.Só por hoje queria fazer como as avestruzes, enterrar a cabeça debaixo da realidade e esperar que passasse. A ironia de todas as frases soltas que deviam ser presas fê-lo perceber que o amor não se pede a ninguém e raramente se dá a quem merece, talvez por isso a pessoa certa não seja aquela que manda flores todos os dias e que escreve do outro lado do mundo a explicar o quão perfeitos foram os momentos. Talvez por isso a pessoa certa seja aquela que quiser estar ao lado dele, incondicionalmente, que goste dele, que a acompanhe pelos diversos trilhos e que partilhe dos mesmos objectivos... No fundo ele não queria alguém, não queria uma pessoa que olhasse para ele todos os dias  e dissesse que era o amor da sua vida, queria sim a pessoa que olhasse por ele todos os dias!


 O passado afecta o presente, não o determina e a impossibilidade é o medo que algo se torne possível, por isso hoje vou de avião até à lua!






So*